sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Notebooks cada vez mais tomam o lugar dos cadernos

A evolução vem junto de crescimento de escrituras digitadas e a queda de manuscritos. Estudantes cada vez mais aderem à tecnologia e passam a escrever menos com caneta, enquanto isso as teclas ameaçam dominar


Final de período escolar é sempre a mesma coisa. Uma pilha de livros rabiscados, amassados e com orelhas junto de cadernos escritos pela metade. Vão todos para estante, a qual enche de materiais sem uso, que no fim se perdem entre os anos. Agora isso está por mudar. E é o lado bom da escrita cursiva(aquela com as letras emendadas) ter entrado em desobrigatoriedade, como aconteceu em mais de 40 estados americanos. A natureza que tanto sofre pelo enorme número de combustíveis não-renováveis ganhará um inimigo a menos. Em lugar de cadernos, as escolas adotaram computadores portáteis (notebooks ou similares) como o novo jeito de anotar o assunto das disciplinas escolares. No lugar disso, o Departamento de Educação dos Estados Unidos (U.S. Department of Education) diz que eles ganharão tempo que antes se dedicavam à caligrafia, agora para uso de proficiência no teclado, apontado por educadores de lá como mais útil nos dias de hoje.
A psicóloga Lara Pimentel agregou seu conhecimento à grafologia - o estudo dos elementos normais e principalmente patológicos de uma personalidade, feito através da análise da sua escrita. “A escrita à mão é um reflexo de como a pessoa é. Ela identifica aspectos da personalidade que estão no interior do ser, que a impressa não passa.” A mesma ainda relata conseguir identificar egocentrismo apenas através da assinatura:” Se a pessoa assina e circunda as palavras de modo a envolvê-las em círculos, isso dá ideia de estar se fechando num mundo montado para ela.”
O estudante de Jornalismo da Universidade Tiradentes Edson Victor não desaprova a nova lei americana: “A nova medida unirá praticidade e facilidade de organização do conteúdo. Fora que, se aplicado a mim, não seria mais incomodado com perguntas de colegas quando tentam ler sem sucesso o que escrevo”. Brinca ele, que assume escrever bem mais hoje em dia por meio das teclas do que por canetas. Embora seja ecológica e prática, estudos no ramo da neurologia apontam que escrever com lápis ou caneta é uma habilidade muito diferente da digitação. O processo neurológico que começa no cérebro e termina nas mãos, e as transformam em símbolos, exige muito mais da pessoa, acarretam em menor desenvolvimento das capacidades cognitivas (como memorização), das crianças que não passam pela fase de aprendizado da escrita à mão.
Professora da Universidade Tiradentes e mestre em lingüística pela UFRGS, Ester Mambrini afirma ser neutra quanto ao caminho evolutivo que a tecnologia trilhou: “Eu não acho errado. São como as coisas andam. A máquina de escrever num se tornou obsoleta? O que fica disso é o romantismo pela coisa.” A competentíssima com as palavras apenas teme quão incapazes sem auxílio ficarão os que crescerão na época da aposentadoria de profissão dos lápis e caneta e não terão a vivência de quando pequenos a desenhar cada letrinha e aprender que “c” com “e” não se usa cedilha: “É preocupante como ficará o grau de dependência das pessoas pelos sublinhados vermelhos e verdes do Word.” - Programa para escrever da empresa Microsoft que os exibe ao detectar erros de ortografia ou concordância - Ester confessa ainda escrever manuscritos, com sua pessoalidade e intimidades: “Eu tenho o meu diário só para mim, não sinto vontade de publicá-los. Por isso que os guardo em meu criado-mudo” – diz a bem humorada escritora.
Outro fator importante para crianças em formação que farão uso de computador como instrumento didático de aprendizagem é a multi-utilidade do aparelho eletrônico. Como revela o estudante de publicidade e propaganda Igor Cruz: “Quando levo o laptop para sala de aula dificilmente consigo manter a atenção ao que o professor fala. Quase sempre tem algo que me chama atenção em alguma rede social, quando me dou conta já perdi parte da explicação”.
No Brasil há uma mudança por parte das escolas que acompanham a tecnologia. Continua-se a alfabetizar crianças com a letra cursiva, sem previsão para adoção de nova medida, embora o foco agora seja de tornar apto a ler e escrever. Com a nova prioridade, educadores já dizem ser perda de tempo estressar crianças com dificuldade crônica em aprender essa letra - processo ao qual leva tempo - e apontam outras letras mais faceis como a de fôrma como alternativa.
Voltando milhões e milhões de anos atrás aos homens das cavernas e seus registros nas pedras percebemos o enorme grau de fixação que os desenhinhos de forma primária e simbólica tiveram. A antropologia estuda esses diferentes níveis que a grafia marca no tecido a se grafar. Serão os computadores os melhores depósitos para armazenar o dia-a-dia de cada um, com as vitórias e derrotas particulares? Um diário digital não soa muito seguro. E se uma pane acometer tudo ligado à tomada ou rede? Lá se vai a humanidade perder uma era.




~segundo texto jornalístico

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