domingo, 16 de dezembro de 2012

A árvore

Admiro-me em frente à árvore, sua elevação acima das nossas cabeças, sua beleza cheia do encanto da utilidade à vida. Tudo serve pra vida. Por estar ligada à terra por raízes físicas e conscientes que não a prendem ao planeta. Dali debaixo ao tronco, galhos, folhas, frutos, um mecanismo sublime bem sintonizado e por isso digna da sublimidade. Reconheço a minha pequenez quando me abismo, ela dança conforme o vento e não deixa de ter o seu papel certo. Tem uma vaidade por ser bela, mas é diferente: ela só diz o que tem pra ser dito. "Que o meu remédio seja seu alimento e que o seu remédio seja o meu alimento". Sou pequeno porque estou em sua sombra e as minhas raízes psicológicas...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Escrita à fumaça em corrente de ar

Eu não escrevo porque quero
Eu só escrevo porque espero
Eu só espero escrever.

Eu só escrevo que espero
o som da tinta na ponta de ferro
a sós alenta o meu “sou” todo.

Eu não escrevo, ai credo!
Eu só aguento a conta do meu prego
Eu não escrevo porque vou pro céu.

Eu só escrevo porque tenho pele
Trêmula]
Ao pé de alguém que alimenta
A fama.

Ai que ódio!
É você que tá escrevendo em mim
Eu só ia te pedir mais um trago.

Com ou contra naturalidade

É agonia, angústia
drama, vaidade.
A gente envelhece?

Com tanto defeito
eu nem ajudo
ninguém.

Eu só tenho feito letras
e segurado o meu bicho
de bem.

Mas letras também
formam
[más palavras
também formam
boa pessoa.

É tudo capricho
É indiferente pra mim
modelar garrancho demais
mas eu não consigo viver sem.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Haikai mudo

O silêncio
guarda mais
fala
do que palavras
despejadas.

Solilóquio

Aparentemente não te achas. [Em superfície
Tu]A pá rente a mente, os olhos nos buracos da face.
Aparem-te. Amem-te. Dentro uma eterna busca supre a hora do encontro. Faróis no percalço da íris.
Estamos[A par, ente mente. Me dás lacunas e engodos e eu molho a terra num choro. Flor em solitude.
Em ti, mente. Tudo isso. Somente.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Haikai vermelho

que símbolo engraçado o amor
codificamos à nossa maneira
sentimos pesado como for
tudo que na verdade
não passa de leveza

Terapia pela música de Siba

O revés dos óculos postos nos rostos pela rua me perdoem o olho cru, as mãos sem lugar, o defeito apurado e ser jornalista na Terra. Que me perdoe o ano de 72 com todos seus discos geniais e infinitamente cabulosos, que fazem parte da minha vida como uma oração, a que se faz antes de dormir. Não que não tenha mais ajoelhado em cima da cama com as mãos ajuntadas, nem que eu seja o mesmo rezador decorado da época infantil. (E que eu nem lembre desses dias! Só quando alguém fizer uma matéria sobre como uma criança se desenvolve na adversidade extrema; para mim, só quando voltar das férias) . Mas pedir e falar pra Deus ajudar a tirar do inferno sem cordas pela janela é o que tem rareado em minhas noites. Eu faço aqui muito mais que uma crítica ao novo álbum de Siba. É sobre vida, tanto que nem trago número de contatos, escrevo que cada um tem um jeito de viver independente das dependências, desenvolvo isso durante as férias, me expurga poder escutar cada verso, cada solo de guitarra de um saudoso do novo mundo, cada tambor em meio a bateria. A vivência no planeta começou a sua corrupção com o nome, um pouco de terra sob os pés e se esqueceu o ar e água. Sendo a bíblia escrita em hebraico, quem será que deu o nome ao nosso mundo? (guardo esta pauta?) Ah! Pobres ares e águas. Eu reconheço este homem de bigode pelo caminhar, meticulosa sensação de pés em cima de um mapa riscado a rota. Não sei de nada, mas por que viver se não pra sorrisos? Não sei, às vezes eu acho que sarei... me apanho negro e nefasto de novo. Não sei, eu digo que acho quando posso nunca lhe comprovar, o “tenho certeza” porque navego e adormeço tempestades dos copos d’águas que ninguém sabe o poder de afogar. Não sei de tudo, mas a vida pode ser bem mais lúcida, pode se saber o que é um simples abraço, daqueles em que se agarra os corpos desprendidos de tempo, soltos no ar – aliás, que caminho tomaríamos se este gás bonito fosse o nome da Terra? (Entende a finalidade da matéria, né? Sim, sou jornalista, mas e daí?) Muito mais leve seria voltar ao passado. A gente pode trabalhar pra isso, pra saber ou falar menos que não é de conhecimento nosso. Desculpem-me os poetas e filósofos que não trabalham. Antes de embarcar nesse trem eu abraço o artista do trabalho bem feito. Sigo, vagão por vagão, apito por apito. Mas aí já é outra história. Agora estou apto a estar apto a prestar serviço. Embarco adiante, disfarço o olhar. “Vou trabalhar”.

Avante!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ode ao lento

Temp(l)o

preso e solto por onde vai
espesso eco de onde vem
leito inquieto depois do além
sigo o certo devagar
miro o aberto que passe aqui
estreito e perto
caminho resvalado

vejo só falto descobrir
força atrás do surdo ôco
dum ouvido tuberculoso
me esguio pelo há de vir

seja prazer engraçado
atenha um pouco
eu tenho tempo
um dia, outro
é ter passado
e esquecer

feito vivo não afoito
canta um tanto quando moço
cumpre a parte do tratado
mesmo com os olhos em poço
só o sol vou molhar




Brisa e granizo

O tempo é lento como
o vento forte como
o intento frágil como
o prato quente
que me encho de frieza.

com o passar invento
longe o meu quarto dorme
onde eu estou a maior parte
extenuante
eu sento
onde faço, ora crescer dos meus devaneios
sou sentinela e um monte
escondido, onde ainda vivo num mundo
de valor
corrompido e ciente disso
desistente do cinismo
incompetente fora do meu
onde







quarta-feira, 2 de maio de 2012

A última carta que Olga escreveu a Luís Carlos Prestes e а filha, ainda em Ravensbrück, na noite da viagem de ônibus que a levaria а morte em Bernburg

Queridos:



Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a ideia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte. Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.

Olga.








~terminei Olga. Que Deus esteja e afaste a futilidade e o ego.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Óbvio óbito do óbolo

Num mundo caindo aos pedaços
se vende fé por trocados.
Num mundo despedaçado em queda
se troca fé por moeda.
Num fundo os fragmentos da órbita
se investe no fim se se foca.
Num ponto chegado, completo avesso
perguntam pelo enxergado em etiquetas.
O preço do zero conquistado
ao troco de muito trabalho.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Raízes no ar

O mundo é muita coisa.
Posso escolher uma que
no segundo próximo mudo.
Conto letras que são só minhas,
mas fluo em meio a tudo.
Penso, estudo, catalogo
e as minhas próprias letras me deixam mudo.
Nada é meu onde mando.
Eu, lápis escrevendo no fundo:
faz-me em árvore de novo.







sábado, 25 de fevereiro de 2012

Muita coisa pra uma escada

Veio na cidade
a mala
a falta
a farsa
a fala
a falha
a farpa.
Vai com a idade
vaidade.
O ascendente degrau.

Escultor ígneo

É fogo pungente,
não tem quem aguente.
Sente.
Mente.
Invente um tempo longe do nunca,
sempre.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Foco do jornalista foca

Longe do vento da praia e das minhas roupas surradas e amaciadas pelos dias, eu visto a experiência do que virá como areia de ampulheta, para passar a vida e do corpo ter saída; ali onde não pareciam se preocupar com isso. Eu tentava disfarçar ao me encontrar todo credenciado e apostado ao máximo como corpo e matéria, matéria atrás de matéria. Quanto conflito para os dois que não ocupam o mesmo lugar. Impossível ter paz assim, antes do trabalho. O começo a espernear, depois a debater, que no presente momento faço ao me revirar, contorcer, e respirar. Respirar para tudo. “Mal chegamos e já achamos que sabemos respirar”, pensei ao olhar para pessoas amarradas ao chão e outras por cima gritando e segurando paus - elas não sabem respirar. Respiro para tudo, pros pérfidos, pros incrédulos. Em corpo jornalístico, agora deixo de ser murta no jardim de inverno, e mudo a ação. Mutação também pros encorpados políticos a que respiro.
Lá no complexo especializado em policiar, assim se fez com pedaços de ferro a fim de achar espaços n’alma dos outros; policiar a mais de uma pessoa que eu próprio? Realmente, só assim com esse barulho que faz desgrudar o espírito. Ainda devidamente colado, eu colo minha pele toda com impressões a causar, a fim de que note, lógico. - Amanhã não verás o mágico, anote: - O tempo é o perdão de Deus. Espero que não contaminem todo o chão da rua, aí farei a minha casa de trabalho, por enquanto sou foca e tenho muito a andar, ou nadar... voar. Aqui não querem que eu elucide o mundo como ele é, mas que palavras marcadas me deixaria lúcido? O importante é saber o que se passa, o meu papel é ver, falar, escrever...