quarta-feira, 8 de junho de 2011

O céu coloria o dia de branco. As pessoas dentro de suas casas, atrás de vidros transparentes olhavam com atenção as gotas que caíam sem trégua. A esperança agora pairava no alto, que parasse de chover e fizesse um céu azul de verão, daqueles sem nuvem alguma para guardar água nenhuma. Essa esperança só lá chegou tão alto por antes ter passado por baixo, muito baixo.
O conjunto Jardim Costa do Sol, perto da praia de Atalaia de Aracaju sofre de alagamento a mais de 25 anos. Alguns mais brandos outros mais severos, na verdade sendo todos severos, quando habitantes ali pagam IPTU e não contam com ter seus lares invadidos por água até a metade da canela em seus quartos de dormir. E sempre a mesma angústia se repete. Em meados de abril e maio o inverno chuvoso da cidade traz preocupação na cabeça dessas pessoas que ano após ano trocam todos móveis que não podem ser levantados com tijolos, reformam as deteriorações na casa que chegou a ficar cheia por mais de 72 horas. Fora o trágico dano material, de ver se estragando na enchente tudo que com esforço compraram, o descaso que são tratados pelos políticos, primeiro alvo da esperança desses pobres desafortunados de Netuno.
Isso continua com anos intercalando a desgraça de moradores desacreditados, que quando podiam se mudavam para um lugar seco e deixavam seu patrimônio a mercê de ratos, cobras, escorpiões e ladrões oportunistas. Já que a possibilidade de venda viria com brusca queda no valor, conforme informa o corretor de imóveis Bruno Silva, a deficiência atrapalharia substancialmente ao vender casas ali por preços lucrativos. E quando não tinham outra casa ou não podiam pagar aluguel conviviam entre os bichos. A esperar mudança, pagaram por limpeza das bocas de lobo de escoamento e ocuparam a sala de espera do gabinete da prefeitura por dias a fio. Sem resultados, foi dada entrada em processos jurídicos contra o órgão, que já os acumula de diferentes anos de enchente.
No ano passado, no período de chuva mais violento dentre todos, a defesa civil condenou o conjunto por inviabilidade de se morar num lugar que a água não tem para onde sair, pelo sistema de escoamento não dar conta do volume dos arredores. A prefeitura apenas tomou providências quando transmitido no ar ao vivo, exibiu-se uma canoa onde moradores faziam a travessia, se equilibrando abarrotados de utensílios domésticos, os que não esperavam, andavam com água até a coxa.
Essa história é mais velha que as crianças que agora brincam na água suja. Começou a mais de 30 anos quando o dinheiro reservado para fazer o aterramento do lugar engordou os bolsos da prefeitura, que deu o visto para a construtora começar a obra do residencial mesmo a mais de um metro abaixo da agora construída avenida Melício Machado. O órgão subestima essas pessoas, julgando-as como um nada sem autonomia de brigar por seus direitos. Como os faz com toda população que não tiver costas largas o suficiente. E geralmente quando os têm, estes são seus companheiros. Mas eles esquecem que ali têm pessoas instruídas e casas chegando ao valor de 500 mil reais, informa o veterinário aposentado Antônio Soares, morador há 24 anos. É preciso ter pé firme, se juntar por justiça, contratar o melhor advogado da cidade para poder questionar pelo montante do aterramento. Não é fácil ir contra a máquina, mas não se pode assistir a corrupção passar por cima do homem e tomar conta.
O órgão responsável pela manutenção das vias públicas – EMURB – concluiu a obra paliativa que contemplou alguns residenciais próximos a Av. Melício Machado, onde o Costa do Sol se localiza. Esse foi o resultado apenas da primeira parcela do que eles têm que fazer, brada André Costa, bancário e presidente do residencial. Até porque a primeira obra apenas amenizou a situação do conjunto que encheu outra vez, na chuva torrencial da penúltima terça-feira, 24. Ainda está por vir uma obra grande, que atingirá conjuntos próximos também alagados, e juntamente assim desafogará o escoamento do Costa do Sol. O problema nessa segunda obra consiste no alto valor previsto para a realização de esgotamento, saneamento e habitação duma área que compreenderá as zonas norte, sul e Zona de Expansão da cidade, no loteamento Aruana, e nos bairros Atalaia, Aeroporto, Santa Maria, Inácio Barbosa, Olaria e Jardim Centenário. A verba teve orçamento de 2 bilhões e está sob liberação do governo federal. Hielson Ferreira Ivo, médico e morador cobra pressa dos órgãos competentes: “Estamos sob aviso de chuva. Não podemos ir para o trabalho e voltar com receio de encontrar tudo debaixo d’água de novo.”
A professora Helena Bonaparte se rendeu: “Não tem mais como, tenho crianças pequenas e saio para trabalhar todo dia antes das 7 da manhã. É muita humilhação pôr os pés naquela água suja até pegar o carro no posto.” Ela se queixa dos possíveis acidentes que ocorrem, como uma caminhonete passou em alta velocidade arrancando os portões fechados com as ondas que se formavam. Onde os carros baixos não entram, quem não tem veículo alto arregaça as calças e mete os pés na água: “Levamos nossos filhos no colo até a saída, correndo o risco de ter que escolher entre cair ou derrubá-los.” Complementa o marido, também professor Adriano Bonaparte.
Em tempos de catástrofes por todos os cantos do mundo. Aqui está uma passiva de ser remediada. Criada pela fúria da natureza com o homem e facilitada pela falta de compromisso do governo. Moradores pagam o preço sem o devido auxílio, de ouvir por vezes repetidas que não ocorrerá mais. Que: ”Será o último ano de enchente do Costa do Sol, eu prometo”. A demagogia inflama a humilhação sofrida. Por isso, na enchente do ano passado, quando o prefeito visitou o rio que passa nas costas do sol, moradores o convidaram com força raivosa engasgada a passar uma noite lá. Com a luz desligada, por questão de segurança, a água corria risco de chegar às tomadas das paredes a qualquer momento. Não tiraria a razão do senhor que tentou jogar o digníssimo senhor prefeito na rua principal do conjunto, alagada, ao qual contrário do que diz seu slogan de propaganda: “Nunca se fez tão pouco em 5 anos!” Óbvio que uma barreira de seguranças de terno o tomaram a frente.
Precisa-se criar uma lei de limite de mentiras pronunciadas. Cada um só tem x número de vezes para brincar com a vida das pessoas. Acredito que isso sanaria boa parte dos problemas da população, principalmente se este número fosse acordado em um 10, razoavelmente baixo. O que vocês querem respeitáveis governantes? Tudo de mãos beijadas? Usem suas imaginações, se fantasiem. Nós temos óculos de raio-x.









~meu primeiro texto mais voltado pro jornalismo, após um ano e meio de curso; ester gostou! então, eis meu costa do sol amado, e molhado

2 comentários:

  1. Na página do blog sempre aparece os seguidores e a opção "seguir"
    Qdo vc vai nas configurações, vc pode arrumar os blogs que vc segue e quer que apareçam na sua página.
    Se precisar de ajuda,é só chamar! :)

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  2. gostei de algumas coisas q li ... e findei por seguir-te ... cá voltou e me deparo com outro morador de "ALAGAJU"

    PS: Gosto bastante do que escreves ...

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