sábado, 21 de maio de 2011
torpor, um fio
A cada dia eu fico mais enganchado nas cordas da minha guitarra. Eu só queria repetir o que eu disse ontem. Porque realmente sinto tudo como um turbilhão, um puta turbilhão premeditado. Que sei de tudo, acho bonito enquanto não acaba e depois penso como seria bom não ter ido tão longe e ter passado umas boas horas deitado no meu sofá, tocando uns solos primários enquanto meus pais dormem tranqüilos um sono de que sou bom filho. Porque eu sou, eles só não entenderiam a distorção da minha música. Tudo é descompassado. Eu sou o cara certo no lugar errado, para a pessoa distante. A arte imita a vida, esse é o problema. Tudo é fingido, todos são fingidos, eu sou fingido. Me sinto um fantoche do destino. Oh plenitude, onde se perdeste? Em que vida me abandonaste? Agora que sinto meus dedos cansados pelo fim do torpor é que vens aparecer, com o seu passo silencioso e já indo embora. Eu sei de tudo, não sei de nada, senão faria as coisas certas. Nem pareço com o que escrevo, me remoendo pelo pleno. Senão não romperia minhas cordas e choraria por um som ambiente para repousar as ideias. Nunca consigo chegar ao fim de minhas tortas composições. Mas queria tanto ficar velho num sítio no meio do verde, numa casa de madeira com a minha mulher a agüentar minha falta de sanidade e minha falta de sorte de ganhar do destino. Acho que nunca vou conseguir escrever bem o que sinto. Ah soma total do desastre, quando chegarás com o esquecimento? Eu só escrevo porque quero ser ouvido e mesmo assim quero parecer sozinho no quarto. Eu só quero desafogar, espero a plenitude quando eu morrer.
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