quarta-feira, 4 de maio de 2011

Essa noite uma borboleta dormiu no meu quarto. Sou criança e tenho medo que enquanto estivesse dormindo, ela pousasse suas pequenas patas de inseto sobre meu rosto. Porque a borboleta é um inseto, já me disseram isso na escola, embora ela seja bonita com suas asas que veem. Eu tentei espantá-la da minha cortina, e abri a janela para que ela voasse, mas ela continuou achando que a haste era poleiro. Por fim não consegui e desliguei o ar condicionado. Afinal borboletas devem sentir mais frio que pessoas e eu não queria matá-la congelada. Quando eu já tinha desistido de expulsá-la dali, já tinha dito que minha parede é verde, mas é sintético, e que aquela borboleta grande e colorida era um presente e não podia voar como ela, porque era de papelão. Foi que ela bateu um pouco as asas e dessa vez se agarrou no marrom do meu guarda-roupa. Quase camuflada, por exceção dos olhos nas suas asas que me olhavam com calma enquanto eu pensava aflito que se adormecesse ela andaria na minha cara. Tornei a conversar com ela, que não era por nada, que eu não tinha medo. Mas que quando mais novo uma vez um rato entrou e se escondeu embaixo do sofá, na sala do lado do meu quarto. Morreu lá antes de meu pai tirá-lo e povoou meus sonhos por um tempo. Acordava de um pulo só pensando que ele passeava na minha cama. Acordava no meio da noite para ver se não achava nada no colchão. Ela se mexeu um pouquinho e pensei que reclamou por tê-la comparado com um roedor que podia matar com o seu xixi. Eu me apressei em me desculpar que não, que ela era muito mais bonita, que ela tinha o céu e asas nas costas e que quando eu pulava nem tocava no teto. Acho que ela me desculpou porque não se mexeu mais. Já era tarde e eu tinha aula no outro dia. Não tive alternativa a não ser pedi-la para não pular em mim. Que de manhã minha mãe abriria as cortinas e janelas, e no claro ela veria o verde do jardim e suas amigas passando, e ela podia ir para casa comer e brincar como borboleta. Acordei no outro dia e ela estava no mesmo lugar, paradinha. Acho que ainda dormia, era cedo demais para as borboletas. Alisei suas asas e falei que podia ficar se quisesse. Todo dia a cumprimentava e fazia carinho nela; comecei bem de leve com o dorso do dedo, que era quase do mesmo tamanho de seu corpinho. Até que um dia passei meu dedo pelo lado da palma. E ela gostava. Achei tão engraçado o jeito dela se cobrir com suas asas quando eu liguei o ar condicionado no segundo dia. Não sei o quê aconteceu, nem cheguei a arejar o quarto... pensei que ela ia ficar para sempre.











~um amanuense não vive só de contos. Precisa de papel pra escrever que fez isso e aquilo, só pra escrever. Fiquei muito triste de não ter tirado foto dela antes de partir. Como sou materialista...

Um comentário:

  1. minha parede tbm é verde, meu guarda-roupa tbm é marrom e no meu quarto um dia entrou um passarinho. Eu não sabia o que fazer, pq ele pousou em cima da cortina e não tinha como tirá-lo dali. Deixei que ele saísse por espontânea vontade (o que pra mim, na minha adrenalina de um estranho no meu ninho, demorou horas, apesar de ter durado minutos)eu consegui. Bati foto dele. :)

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