sábado, 9 de abril de 2011

Talvez...

Grandes e velhos amigos se encontram num bar, depois de um abraço apertado, sorrisos de saudade e perguntarem como andam as coisas, ele se despede, ao lhe alisar o braço esquerdo com a palma da mão direita lhe diz: -Velho, você está sumida demais. Vamos marcar essa cerveja! E ela lhe responde com indignação aparente ao franzir as sobrancelhas e soltar as palavras com tom de revolta: Não é velho? Vamos marcar. Vamos Mesmo! E ele continua o caminho para o banheiro.
Assim são e serão os amigos de longas datas sempre que se encontrarem no bar. Sempre grande alvoroço e falta de respostas de porquê nunca sentam na mesma mesa. Talvez ele não tenha celular, more do outro lado da cidade, separado por uma travessia de barco a remo. E ela talvez não tenha carro, ou pernas. Ou talvez não sejam mais amigos e não tenham percebido. Na época do colégio, quando matavam aula e iam para o shopping, enchiam a mochila de chocolate, a qual lhes pesava as costas, e entravam no cinema pela saída. Talvez dispusessem dos mesmos gostos e do agrado da companhia alheia e estivessem um dentro do dia-a-dia do outro sem esforços maiores.
Ele tem pessoas em comum com ela. E ele assim como ela sai para beber cerveja toda sexta, ainda assim um não sabe o celular do outro. Eu falo tantos 'talvez' porque não os conheço e pode ser que aquele carinho já bastasse para ela se sentir segura de sua amizade. E para ele que o seu braço seja tão macio que não lhe dê vontade de fazer outra coisa. As teclas do celular por certo são menos macias. Mas voltando à vontade, o que é ela? A que ele escolhe ou a que ela escolhe dentro dele? Parece-me que têm uma indisposição impensada, onde falta o tempo para dar conta do outro em meio a diferente rotina de agora. Também conta eles nunca ficarem magoados com a falta de lembrança do amigo. Seguem naquela amizade constante, sem altos e baixos, só meios. O suficiente para sempre desencadear no próximo sorriso saudoso. Digo isso porque os acho muito amigos em manterem uma relação estagnada e conseguirem na próxima sexta se cumprimentarem com fervor. Não acho combustível para isso.
Eles fingem que não fingem, ou são tão bons fingidos que nem sabem o estar fazendo. Vejo-os meio século depois do primeiro dia no colégio e mudarão muitas coisas: os sorrisos enrugados, o braço pelancudo, a barriga de cerveja e o combustível nesse tempo será renovável, através de décadas de pesquisas e novas tecnologias surgidas. O deles não se sabe.









~ai, é sábado, anoiteceu agora a pouco. Escurecer de sábados ficam melancólicos demais em meu quarto. Vou beber cerveja, vou ficar levemente bêbado e amenizar o que tá trepidando aqui.

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