sábado, 31 de janeiro de 2015

Manyfexto

Eu sinto o cheiro, sou como fumaça nas nuvens das fábricas e calo porque sou só pulmão. Bombas, molas, proporções, impulsos eletrônicos e cálculos de amor curtam meu couro, ou melhor - me deixem. Eu quero dar o último trago, derradeira lufada do câncer que me come todo e me faz carne, desordena as minhas células e me saca da vitrine, despindo a minha roupa de manequim 38.  Jogado no beco dos fundos, peça defasada, na rua do lixo um pedaço quebrado de gesso se levanta e torna a cair, um bicho de pernas e pulos, o que tardará a descobrir?
Se fleuma fizer a plástica, um tecido de gelo cobrirá o meu meio quente, enquanto meus dedos do pé congelam e quebram. Embaixo do lençol tremo e esquento, sem medo sucumbo, e o corpo não sabe temperatura, sentido ou bússola. Um velho sonho, futebol no campo de barro, a poeira sobe ninguém vê nada, um contorno na última volta paranoica, bicudas, boladas e balizas sem fim, sem fim de convulsões desaparecem, só fica o pós, o que acabou de fugir, rastro da agonia assignificante , nunca o
O cheiro quente. O que é isso?  A cabine embaça. Mamilos, polpas, babas derramam suas diferenças do acre poroso. Já a modorra de repetir pela televisão... a rotina do outro, o corpo do outro, eu morrendo na minha frente. Eu – espaço fechado. Fechado por que, ué? Só inverter. Mas como funcionam palavras cadeados, somente engrenagens.
Me arranque daqui papeis, canetaços, desenhos... expurguem que só quero ver foguetes brancos traçando azul - e gargalhar catarrento e perdido numa estrada onde automóveis dirigem poeiras

, respirar um pouco no canto daquela nuvem viciada, ali posso tirar os meus olhos e sentir o mundo. Admirar a sua barbatana de algodão estupidamente alvo pongando lá por cima – et confusione. Os meus joelhos rangem e com calma os apoio ao chão. Duas pedras ósseas sem mais função, eu sorrio com malícia. Eu nunca teve função. Eu nunca sabe falar nada. O tempo nunca dá. O que não dá é o seu regime, o seu celular alarmando que tá na hora do remedinho, a sua beleza magra e o fetiche de lamber ossos sem comer a carne e de comer os ossos sem lamber a carne e tudo que sangra no meio

domingo, 11 de janeiro de 2015

pobres
as pontes
provisórias

prove das pontes
muito embora
nada haja

atravesse
super fácil
através
superfície