Eu sinto o
cheiro, sou como fumaça nas nuvens das fábricas e calo porque sou só pulmão. Bombas,
molas, proporções, impulsos eletrônicos e cálculos de amor curtam meu couro, ou
melhor - me deixem. Eu quero dar o último trago, derradeira lufada do câncer
que me come todo e me faz carne, desordena as minhas células e me saca da
vitrine, despindo a minha roupa de manequim 38. Jogado no beco dos fundos, peça defasada, na rua
do lixo um pedaço quebrado de gesso se levanta e torna a cair, um bicho de
pernas e pulos, o que tardará a descobrir?
Se fleuma fizer a plástica, um tecido de gelo cobrirá o
meu meio quente, enquanto meus dedos do pé congelam e quebram. Embaixo do
lençol tremo e esquento, sem medo sucumbo, e o corpo não sabe temperatura,
sentido ou bússola. Um velho sonho, futebol no campo de barro, a poeira sobe
ninguém vê nada, um contorno na última volta paranoica, bicudas, boladas e
balizas sem fim, sem fim de convulsões desaparecem, só fica o pós, o que acabou
de fugir, rastro da agonia assignificante , nunca o
O cheiro
quente. O que é isso? A cabine embaça.
Mamilos, polpas, babas derramam suas diferenças do acre poroso. Já a modorra de
repetir pela televisão... a rotina do outro, o corpo do outro, eu morrendo na
minha frente. Eu – espaço fechado. Fechado por que, ué? Só inverter. Mas como
funcionam palavras cadeados, somente engrenagens.
Me arranque
daqui papeis, canetaços, desenhos... expurguem que só quero ver foguetes
brancos traçando azul - e gargalhar catarrento e perdido numa estrada onde
automóveis dirigem poeiras
, respirar
um pouco no canto daquela nuvem viciada, ali posso tirar os meus olhos e sentir
o mundo. Admirar a sua barbatana de algodão estupidamente alvo pongando lá por
cima – et confusione. Os meus joelhos rangem e com calma os apoio ao chão. Duas
pedras ósseas sem mais função, eu sorrio com malícia. Eu nunca teve função. Eu
nunca sabe falar nada. O tempo nunca dá. O que não dá é o seu regime, o seu
celular alarmando que tá na hora do remedinho, a sua beleza magra e o fetiche
de lamber ossos sem comer a carne e de comer os ossos sem lamber a carne e tudo
que sangra no meio
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